domingo, setembro 24, 2006

Velho amigo.


Há coisas que não gosto, outras que não suporto e outras ainda que não entendo. Não entendo, por exemplo, como dosear esta vontade de expelir a plenos pulmões os músculos podres do meu miocárdio. Os ventrículos e as aurículas dão uma ajuda, mas não chega. Nunca vai chegar. A bolinha vermelha alojada no peito vai ser sempre aquele animal mutante e indomável. Diz quem o conhece que nunca está igual de um dia para o outro. Ou para melhor, ou para pior. Faz-me sinal que está gasto, velho e fatigado, mas não deixa de bater como sempre bateu, sempre no mesmo ritmo. Aconchego-o e digo-lhe que não falta tudo para se sentar numa cadeira de amor, numa daquelas cheias de ouro e diamantes, bem à medida do valor dele. Não se acredita. Ficou farto de promessas goradas e expectativas desmontadas. Vestiu um casaco realista e escondeu-se atrás da segurança do longo cachecol. Isto de passar o Hotel Amor a pente fino umas cinquenta vezes e não encontrar o cofre mestre mexe com a confiança. Sou daqueles que acredita que não vai morrer sem realizar a maior parte dos sonhos. Um deles é ver o miocárdio a vermelho berrante, cheio de cor e de cara lavada, a segurar aquele pedaço de betão alojado na caixa toráxica.

Kin(g)d(om) of Magic.


É um ritual como todos os outros. A folha de papel primeiro, a caneta depois. Se a folha for de papel reciclado dá um ar mais natural, fica mais bonito, parece coisa de gente que trabalha por gosto. A caneta tem de fluir rapido. Nada de borrões nem falhas de tinta. Deixo os lápis de lado, se me enganar risco. No fim, com uns poucos de riscos, o efeito fica giro. Assemelha-se a um rascunho, um estudo preliminar. Gosto disso. A folha nao pode ter aquelas linhas laterais encarnadas. Para limitações já bastam as da inspiração. E ter uma folha cheia de palavras de cima a baixo, da esquerda à direita, com frases bem construídas e boas de ler é dos maiores tesouros que se pode possuir. No dia em que me conseguir escrever vou ocupar um bloco daqueles gordinhos, formatar o texto desta forma e esboçar sorrisos com o desfolhar contínuo. Neste mundo de papel e caneta, somos reis e princesas, lápis e borracha, monstros e anjos. Sou a felicidade e a tristeza, o amor e o ódio, a loucura e a sensatez. A verdade é que nunca escrevi textos a papel e caneta, mas não custa imaginar como bonito seria. Desminta-se quem disse que magia se faz com varinha e cartola.

Wishlist

Costumo deixar no terraço do meu apartamento mil pensamentos nocturno, antes de aconchegar os mais importantes bem junto ao coração. Numa tarde, num telhado do outro lado da rua, duas pombas saltavam lado a lado. Ao lado destas, outras duas observavam o fenómeno com relativa atenção. O telhado gritava por uma reparação, o dia era cinza e a vida o costume. Centrei-me no casal. Estavam a brincar, como dois miúdos no quintal dos avós. Depois de muitos saltos, encontrões, pinos e cambalhotas, a poeira lá assentou e ficaram lado a lado, certamente estafados, de bico encostado. Os outros dois espectadores la continuavam e o resto da plateia ia sendo costituída por mim e pelo resto dos pombos que voava lá perto. Pensei em nós, comuns mortais. Não podiamos ser assim? A vontade de captar o momento era enorme. Mas não havia máquina fotográfica por perto e a qualidade do telemóvel não era a melhor. Guardei a imagem no peito, junto ás recordações que interessam. Pensei que um dia pudesse ser inventado algo que revele imagens guardadas na memória. Ou no coração. Hoje esbarrei numa coisa engraçada e lembrei-me de partilhar. O pouco que escrevo sobre a interpretação do momento tem por finalidade não fechar portas a demais interpretações. Cada um com a sua, todas válidas. Viver é o slogan da vida. Cá está a coisa com que esbarrei:


A Incapacidade

São estes dedos que rimam com medos que fazem questão de não apresentar trabalho digno desse nome. É prisão angustiante, casaco de forças sufocante, esta força parcial que me adorna as feridas deixadas em cada esquina. O frio corta e nem um casaco de penas me protegeria. Ser invadido é como ficar nu numa praça lotada, não há como escapar e todos os segredos são explorados. A incapacidade de se mudar o impossível faz com que a luta pelo contrariar de ideias seja sempre um objectivo comum à maioria dos mortais. E efémero também. Onde está o tão aclamado cepticismo? Foge, como tudo o resto. Culpa não é minha, nem deste teclado, cansado de transmitir pensamentos aleatórios, contos gastos de histórias sem fim. É de todos e de ninguém, minha e tua, deles e de quem mais me convier. Sentir um balão cheio de hélio no peito, a encher exponencialmente, e a não ter como sair. Em bom tempo, pegava-se na mão da cara metade e faziam-se pactos de sangue, para toda a vida. Tenho uns avós que dizem que resulta. Nunca fiz. A ciência tratou de alertar que tais coisas poderiam evoluir para DST e... a magia desaparece. Os contos de fadas não deviam ser estragados. E as ressacas nunca prolongadas. Esta que vive dentro de mim nunca é saciada. De nada. É a procura incessante de tudo o que quero e do que nunca vou ter. Que seja, o conformismo nunca foi uma qualidade, mas não é por ser assim rotulado que passa a ser conotado negativamente. Viver à sombra tem os seus frutos. Não tão saborosos e reluzentes como os que aproveitam o Sol quente das 3 da tarde e aguentam as chuvadas que S. Pedro se lembra de chorar de quando em vez, mas, ainda assim, saborosos. Nunca sei o que me dá para despejar murmúrios, mas imaginem falar sem cordas vocais. É como querer escrever e não poder. Peço desculpa pelo texto atabalhoado, pelas frases ás cambalhotas, mas quando se acaba com a ressaca é mesmo assim, é tão bom de voltar a sentir o gostinho que pouco importa como se faz.

domingo, setembro 17, 2006

Olá olá

Breve passagem só para avisar que o blog não está morto, está só adormecido. Em breve voltarei a ter a tão desejada internet ao meu dispor (e um computador que funcione normalmente) e os posts começarão a surgir outra vez. Um beijo ou um abraço a quem por cá ainda passa.

domingo, setembro 10, 2006

Copy/Paste

Como o tempo escasseia, deixo dois copy/paste aqui perdidos. O primeiro não está em português correcto, mas não quero mexer em textos que não são meus. O segundo é uma pequena definição.

Existe somente uma idd para sermos felizes, somente uma época na vida de cada pessoa em ke é possivel sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realiza-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para nos encontrarmos com vida e viver apaixonadamente e desfrutar de tudo com toda a intensidade, sem medo ou culpa de sentir prazer.
Fase mágica em ke podemos criar e recrear a vida à nossa propria imagem e semelhança e sorrir e cantar e brincar e dançar e vestir-se com todas as cores e entregar-se a todos os amores experimentando todos os seus sabores, sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem, em ke todo o desafio é mais um convite à luta; em ke enfrentarmos com toda a disposiçao de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.

Essa idade tao fugaz na nossa vida, chama-se presente e tem apenas a duraçao do instante ke passa...


And then...


Saudade: é uma espécie de lembrança nostálgica, lembrança carinhosa de um bem especial que está ausente acompanhado de um desejo de revê-lo ou possui-lo. Uma única palavra para designar todas as nuanças desse sentimento é quase exclusividade do vocabulário da língua portuguesa. A palavra vem do latim "solitas, solitatis" (solidão), na forma arcaica de "soedade, soidade e suidade" e sob influência de "saúde" e "saudar".

quinta-feira, setembro 07, 2006

Consultor

- É estrondoso.
- A sério? Mas entendem-se bem em tudo?
- Sim, sim. É a união perfeita. Não há um movimento que ela dê que eu não antecipe e não corresponda. São orgasmos múltiplos e prolongados.
- Isso é óptimo, fico agradado por ouvir tais notícias. Da última vez que cá veio não estava tão radiante.
- Pequenas evoluções. Sabe, acho que a vida é muito, mas muito incompleta sem um toque de amor de vez em quando. Eu não prescindo deles.
- Concordo. Mas diga-me então, voltando ao assunto inicial, as noites agora estão... mais produtivas?
- Absolutamente. É como desfrutar de um novo ambiente. Estou feliz, não o nego. Estando onde estivermos, há sempre tempo para nós. No carro, na sala, na cozinha, no cinema!
- Bem... estou a ver mesmo grande evoluções.
- Sim, também eu! E o melhor é que ninguém se nega a nada, oferecemo-nos e partilhamo-nos mutuamente, sem receios e sem pudores. É uma vida alegre e bem disposta, cheia de amor e carinho. É uma ceia de leite com bolachas, enrolados num cobertor em frente à lareira, que se prolonga por dias infinitos. E é tão bom viver assim.
- Não duvido. Hmm... Então posso encerrar o seu dossier, já que os seus problemas estão mais que resolvidos, de acordo?
- Erm... mas doutor, eu nem sequer falei de sexo...


E com este texto me despeço por uns dias, já que me ausentarei para gozar o meu fim de férias entre amigos e copos e, mais tarde, para o regresso a Coimbra, para voltar aos estudos, embora sem pc nas primeiras semanas. Espera-se uma escassez de textos, embora tente colmatar a falha assim que tal seja possivel. Um abraço e um beijo a quem cá passa. Obrigado.

sábado, setembro 02, 2006

O meu problema de expressão.


Nunca me senti à vontade na poesia nem nos diálogos. O meu campo de escrita preferido é, sem dúvida, a prosa. Parece que as palavras fluem com mais naturalidade, não sei. É como se o teclado agradecesse a ideia de escolher prosa e me indicasse as teclas a seguir até ao último ponto final. Só tenho pena que a esmagadora maioria da minha prosa vá, voluntária ou involuntariamente, parar ao tema de sempre, o Amor. Não aprecio, porque de tanto falar nele, por vezes, fico sem saber que mais se poderá desenvolver de algo já tão fustigado pelas canetas espalhadas pelo mundo. Gostava de abraçar outros temas, outras ideias, outros amores. Mas não interessa, já me rendi! Qualquer que seja o assunto principal do texto, há sempre algo que me puxará a levar as palavras ao campo amoroso e, porque não, direccioná-lo a um Tu, hipotético, ou talvez não. É a necessidade de se escrever para alguém, de expressar o que de bom há cá dentro e que quer ser partilhado, de abrir as portas de um castelo que nunca foi conquistado. Embora o problema se revele por vezes asfixiador no que toca a domínios de outras áreas, não me posso queixar, já que a palavra mágica, de 4 letrinhas apenas, dá aso a milhares de divagações por minuto. Basta guardar as melhores, desenvolvelas e fazer delas bonitas memórias escritas. E no fim, quando surge o último ponto final, quando se re-lê e se retoca um ou outro pormenor, quando se volta a medir o aspecto geral e a aprovar todos os aspectos básicos... é aquele sentimento bom, aquele 'Acabei algo meu'. Pode ser bom, pode ser mau, mas é meu. E estas coisas... ninguém nos pode tirar.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Sara.

A Sara é do melhor que há, disso ninguém duvide. A Sara foi embora um mês, para a Polónia. Levou na carteira a bandeira de portugal e uma cabeça genial. A Sara vem daqui a um mês. A Sara é Miss Lusitânia e está a defender as cores do nosso país no Miss World, na tal Polónia. A Sara, para além de todos os atributos já referenciados e deduzidos, tem ainda uma capacidade de escrita acima da média.

A Sara tem um espacinho aqui: Princesa Desalento

E tem outro aqui, cujo grande objectivo é recolher o maior número de votos para ser eleita Miss Mundo: Miss World Tv Contest

A Sara é a irmã que nunca tive e a amiga que sempre terei.

Mãe é Mãe.

A minha mãe é das pessoas mais porreiras que conheço. Tem quase 50 anos mas por vezes penso que aquela mentalidade anda a concorrer com a das minhas amigas, o que é óptimo. É bastante moderna no que toca a ideias sobre jovens e, em especial, a mim. Embora não lhe conte grande coisa da minha vida, ela sabe sempre o suficiente para topar logo se ando com boa cara ou nem por isso. É, provavelmente, a pessoa que mais admiro e que mais me admira. Farta-se de me dizer que sou o filho preferido dela, mesmo sendo o único, e que aposta o que eu quiser que é a minha melhor mãe. À uns dias atrás, chamei-a ao computador. Ela estava cheia de sono e bastante cansada. Disse que lhe queria mostrar uma coisa. O sono passou logo. Abri o blog e, post a post, apresentei-lhe o Murmúrio. No fim, saiu um "Estou admirada...", com um misto de orgulho e surpresa, por o tal filho preferido, que é meio atravessado das ideias, ter um cantinho para depositar os pensamentos. Despediu-se com um beijo e com um "Muito bem, gostei muito". É bom ter momentos assim. E este post ela nunca o irá ver!

Dia de passeio.


Pergunto-me se algum dia me verás como eu te vejo a ti, naquele altar que ninguém toca nem conhece. Do alto da torre que construíste, vês-me, no meio da multidão, lá no canto escondido, a murmurar as minhas histerias? Olhas de soslaio mas devias de pronto o olhar, não vá o cupido fazer das dele e obrigar-te a fazer aquele esforço, a que chamam amar, por mim. Não está nos teus planos abdicares das tuas regalias de princesa pelo homem que entrega jornais à quinta, trabalha nas máquinas à segunda e pastoreia aos fins de semana. Já o homenzinho abdicava da quinta que estima desde a adolescência, do casebre de madeira feito por ele próprio com 11 anos e do bolo de chocolate que a mãe tem sempre pronto ao domingo à noite, tudo por ti. A relação dar/receber nunca foi justa, porque haveria de ser diferente no Amor? Pergunto-me se algum dia me verás como eu te vejo a ti...

Definam-se!


Partindo do princípio que todos somos iguais, pessoas racionais e com uma certa inteligência, alguém que me explique este fenómeno a que os entendidos chamam Amor! É que sinceramente não entendo a lógica de se abdicar de tudo por uma simples pessoa. Se existem uns biliões espalhados pelo planeta, porque razão haverá de ser apenas por uma que somos capazes de fazer tudo o que esteja ao nosso alcance? Se o problema fosse apenas a carência sexual ou afectiva, não bastaria angariar uma pequena fortuna e recrutar umas meninas apetrechadas para nos satisfazer a nível sexual e encher-nos o dia com carinhos e palavras bonitas? Se o problema fosse apenas a carência de algo que nos leve a uma luta diária por algo que é nosso, porque não bastaria o árduo esforço por manter aquela firma da família forte como sempre? Se o problema fosse a carência de alguém que 'esteja sempre lá quando mais precisamos', não bastariam os amigos mais próximos, que talvez façam tanto ou mais que a tal ciderela? Porquê é que não chega? Bloqueio. Não sei responder, admito. Também nunca fui muito de respostas, sempre dei prioridade ás perguntas. Mas a verdade é que não sei. Uma ajuda era boa ideia. Apenas sei responder a uma pergunta, neste tema. Será que esta lista de necessidades é saciada com as resoluções que elaborei? Claro que não. E será que apenas uma pessoa consegue fazer todas as carências que possamos ter e ainda oferecer algo mais que estará por definir? Claro que sim. A ideia é geral. Talvez ninguém saiba explicar o porquê de ser assim, mas todo o mundo o sabe sentir, e a verdade é que amar é fazer de um nada um tudo. E basta amar e nada ter, para viver todos os dias sem morrer.

Bom dia.


É um barulho de uma respiração calma, vestida de branco, que me acorda do sono de uma noite longa. Os olhos abrem-se com uma lentidão de quem não sabe se já quer acordar. Ainda bem que o fizeram. A primeira imagem captada é a tua, a olhar para mim, deitada ao meu lado, a passar-me a mão pela face. "Bom dia...", dizes-me tu, com a voz mais doce que consegues escolher e o sorriso mais lindo que conheço. O ambiente é claro, leve, angelical. Um quarto branco, com lençóis brancos e mobília clara, cuja cor fica à tua escolha. Fazes aparecer um tabuleiro no nosso meio, com manga, sumo natural e bolachas amanteigadas. Tomamos o pequeno almoço como duas crianças a lanchar em casa dos avós. No fim, ofereço-me para arrumar o tabuleiro. Mas engano-te, deixo-o mesmo ali ao lado da cama, vou para cima de ti, devagarinho que de manhã os músculos não dão para mais, cubro-te de beijos, carinho e tatuo-te palavras bonitas pelo corpo. Colo-me e a ti e aqueço-me enquanto te aqueço, que este frio matinal nunca é bom de se sentir. O sagrado ritual de remoção de genes e partículas prejudiciais ao organismo espera-nos. O banho. Entramos agarradinhos, a tiritar de frio. Estendo eu o braço para abrir a torneira da água quente, já que insistes em não me querer largar para o frio não te tocar. Já está bom. Lavo-nos e seco-nos, com aquele toalhão azul-bebé que eu adoro. Tenho de me despachar, entro meia hora mais cedo que tu, deixo-te semi-nua na cama, com o toalhão a cobrir-te. Já vestido, sento-me ao teu lado, beijo-te como quem não quer ir embora nunca. "Haverá melhor maneira de começar o dia?", pergunto-te eu. O teu sorriso diz tudo. Deixo-te o meu perfume a fazer companhia e parto para o mundo real.