domingo, setembro 24, 2006

Velho amigo.


Há coisas que não gosto, outras que não suporto e outras ainda que não entendo. Não entendo, por exemplo, como dosear esta vontade de expelir a plenos pulmões os músculos podres do meu miocárdio. Os ventrículos e as aurículas dão uma ajuda, mas não chega. Nunca vai chegar. A bolinha vermelha alojada no peito vai ser sempre aquele animal mutante e indomável. Diz quem o conhece que nunca está igual de um dia para o outro. Ou para melhor, ou para pior. Faz-me sinal que está gasto, velho e fatigado, mas não deixa de bater como sempre bateu, sempre no mesmo ritmo. Aconchego-o e digo-lhe que não falta tudo para se sentar numa cadeira de amor, numa daquelas cheias de ouro e diamantes, bem à medida do valor dele. Não se acredita. Ficou farto de promessas goradas e expectativas desmontadas. Vestiu um casaco realista e escondeu-se atrás da segurança do longo cachecol. Isto de passar o Hotel Amor a pente fino umas cinquenta vezes e não encontrar o cofre mestre mexe com a confiança. Sou daqueles que acredita que não vai morrer sem realizar a maior parte dos sonhos. Um deles é ver o miocárdio a vermelho berrante, cheio de cor e de cara lavada, a segurar aquele pedaço de betão alojado na caixa toráxica.

1 Comments:

At 12:47 da tarde, Blogger Clara Mafalda said...

«Sou daqueles que acredita que não vai morrer sem realizar a maior parte dos sonhos.» não é qualquer um que tem coragem para dize-lo, para assumi-lo, para acreditar. mesmo quando o miocardio continua da mesma cor, com o mesmo bater .. mesmo quando lá fora está tudo sujo e cá dentro, nem sempre está mais limpo. nem toda a gente tem coragem ..
parabens!

beijinho
xxx

 

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