segunda-feira, julho 31, 2006

No subject

Abro o livro e rascunho um texto. Estando longe da perfeição, decido rasurá-lo e arrancar a folha. Próxima onda de inspiração será melhor. Vai ser desta. Não há tema? Não há problema, escrevamos então sobre isso mesmo, a falta de tema. Tema fútil, talvez não. Se o tema é a falta de tema... há ou não há tema? Quando se escreve, seja sobre o que for, há sempre um fundo base, que nos serve de guia mestra até ao último ponto final. Hoje calhou ser a falta de tema, porque a inspiração não escolhe dias, embora a boa disposição ajude à sua aparição. Olho para trás e vejo o que fiz, olho para a frente e vejo o que farei. Estou ansioso por isso. Quero fazer tudo o que puder. E já agora, o que não puder também! Quem somos nós para dizer que não vamos, um dia, dominar o mundo? O céu é o limite. Hoje uma página, amanhã um livro. No fim, só quero possuir uma bela biblioteca. Uns livros de aventura, outros de drama, os de romance, claro, bem representados, alguns policiais e, porque não, uns bons thrillers juvenis. Quero ser capaz de os ler quando me apetecer, para me lembrar que um dia fui capaz de fazer algo e um dia serei capaz de fazer melhor. Os limites foram feitos para os limitados, que se auto-intitule quem quiser!
Passo novo olhar sobre a folha... não está perfeito, mas custa sempre riscar um conjunto de palavras. Poupo o pergaminho à reciclagem e guardo-o, para me lembrar que a falta de assunto, por vezes, ainda dá asas a umas belas divagações.

quinta-feira, julho 27, 2006

Um Diário Diário

Hoje foi um dia bom. Um dia bonito. Não subi os degraus da saudade, não fiz do abismo um atalho nem bebi amor rancoroso. Deixei o dia fluir, como bem lhe apetecia... Uma coisa ali, outra acolá. As horas foram passando, sem marcação nem horário, ao sabor da maresia a colar-se ao corpo e ao cheiro a gasóleo na estação de serviço. Corro a praia, corro a estrada infinita e corro-te a ti. De uma ponta a outra. Selecciono uma banda sonora a condizer, cheia de pétalas de rosa e aroma de baunilha. Guardo o coração numa jaula, afável, só para o caso de uma possível queda. Esqueço a física e estás onde me apetecer. Estás no banco do passageiro, num quadro do meu quarto ou a falar-me junto ao peito, a dizer aquelas coisas bonitas. Lá estão as ondas do mar, a lembrar-nos que quem se agiganta tende a cair. Lá está o Sol, a confirmar. São nossos amigos. Quantas e quantas vezes os vemos a fazer a união perfeita, no fim de tarde, com um beijo sagrado que nos traz a noite... E eles a nós. Não há lugar a descrições, promessas ou desejos. É o viver por viver. É o sentir e o amar. Não sei se estaremos cá todos os dias para presenciar mais um crepúsculo a dissipar-se, mas sei que enquanto o virmos... a vida corre bem. E os dias continuam bonitos.

domingo, julho 23, 2006

Recaída

Doutor, acho que estou a recuperar bem. Embora as noites continuem longas e os dias compridos, o amanhecer parece sofrer uma gradação de beleza a cada dia que passa. Estou a conseguir encontrar-me, não tenho dúvidas disso. Mas, doutor, hoje abri uma excepção. Não foi voluntária, a sério que não. Mas voltei a mergulhar naquele mar confuso que me acostumei nos últimos anos. Revivi tudo. Voltei a sentir o que queria e o que não queria. E voltei a ver que o que não queria vem sempre em maior quantidade que o que queria. Sempre soube onde a estrada acaba, mas teimo sempre em seguir aquele trilho. É como me dizerem que o caminho de pedra é o mais rápido e mais seguro, mas de já estar tão habituado ao de terra, nem me dou ao trabalho de o conhecer. Imagino que um dia estas sessões acabarão por ter valido a pena. Ou talvez me limite ao meu egocentrismo na hora da vitória, aclamando a minha grande personalidade como pilar base para o meu sucesso. Mas se acredito tão fortemente em mim, porque recorrer a terceiros? Porque não ultrapasso todas as barreiras sozinho? Hoje, tive uma recaída... já sei que o combinado era não poder ter mais. Mas ás vezes o amor fala mais alto. E eu sou assim, não aguento. É como estar de dieta e ter um pacote aberto de maltesers mesmo à nossa frente. Não dá. Pelo menos uma bolinha tem de ser consumida. Adoro chocolate porque é a coisa mais saborosa do mundo. Adoro o amor porque é a melhor coisa do mundo. Odeio chocolate por fazer engordar. Odeio o amor por fazer sofrer. Amanhã não sei o que vou fazer, mas não me arrependo de hoje.

Revisão

"who am I to need you when I'm down
where are you when I need you around
your life is not your own

and all I ask you
is for another chance
another way around you
to live by circumstance, once again

who am I to need you now
to ask you why to tell you no
to deserve your love and sympathy
you were never meant to belong to me

and you may go, but I know you won't leave
too many years built into memories
your life is not your own

who am I to need you now
to ask you why to tell you no
to deserve your love and sympathy
you were never meant to belong to me

who am I to you?
along the way
I lost my faith

and as you were, you'll be again
to mold like clay, to break like dirt
to tear me up in your sympathy
you were never meant to belong to me
you were never meant to belong to me
you were never meant to belong to me

who am I?"

Smashing Pumpkins - Crestfallen

E citando uma grande miúda: "Oh Rui, esta é a melhor música de sempre...!"

Hoje, concordo.

sexta-feira, julho 21, 2006

'Never the less'

É nas noites em que te perco,
Que me encontro

Relembro-me quem sou
E esqueço-me do que tenho sido
Abro tréguas nesta guerra
Já que saio sempre vencido

Que me aconteceu?
O velho Rui morreu?
Derrotado ou cansado
Nunca morto hei de estar
Só de cá saio quando vir o meu mundo triunfar!

Farei do mundo uma pista,
Talvez não aguente até ao fim da corrida
Mas a volta mais rápida será minha.
Se o objectivo não é ser bom,
Para que me deram este dom?

Corro o mundo se for preciso
I'll do what it takes
Nem me interessa o que será
I'll made my mistakes
E no fim cantarei
Pois o melhor serei.

É nas noites em que te perco,
Que me encontro.

Esquizofrenia Utópica


Era uma vez dois amigos, muito amigos, que tinham duas amigas, muito amigas. A amiga do primeiro menino sabia ser querida, gostava mesmo muito dele. Era capaz de tudo só para o ouvir falar. Mimava-o, estimava-o e fazia-o sentir-se mesmo bem consigo próprio. Fazia-o sentir-se amado. Gostavam de aproveitar tudo o que a vida lhes dava sem perguntar porquê. Deixavam o amanhã para depois e guardavam o passado para o dia de ontem. Guardavam memórias em caixinhas de papel, seladas com saliva e pintadas com amor. Planeavam filhos, tios e sobrinhos. Viam-se, velhos, a discutir porque um deles queria ver a novela e o outro um programa de entertenimento. Viam-se, adultos, cheios de trabalho mas sempre com um sorriso na cara quando se viam. Viam-se, crianças, sem responsabilidades e sempre com vontade de "estar só mais cinco minutos". Via-se que eram tudo o que precisavam. E nada mais interessava.
O outro menino, não largava o amigo nem por nada, pois este era tudo o que ele um dia sonhava alcançar. No entanto... a esquizofrenia tem destas coisas, as personagens tendem a ser fantásticas, mas nunca reais.

domingo, julho 16, 2006

Mundo ao Contrário


Tens o Teu mundo ao contrário,
envolto em rebaldaria,
entras sempre por onde eu saio,
tiras o sol e começa o dia.

Estou em breve de partida
para longe do Teu lado.
Tenho a Ti dedicado a vida,
tomo agora o caminho errado.

Nenhum de nós fica a perder
se o que nos unia esmoreceu
(não quero estar contigo e apenas ser
para sempre o filho que se perdeu).

Não sei se me vou arrepender
e lamento se destruo o que somos,
mas apenas Te quero dizer:
estou cansado de lutar pelos Teus sonhos!

E ainda há-de chegar o dia,
contigo em sono profundo,
em que deixo a alma de vigia
e chego fogo a este mundo.



Copy/Paste de um poeta anónimo. Revi-me.
À falta de inspiração aliou-se a vontade de não deixar adormecer o murmúrio.
Um obrigado aos poucos que cá passam.

sexta-feira, julho 07, 2006

Madrugada

Abro a porta com as poucas forças que me restam. A noite desgasta-me e o ar madrugador rejuvenesce-me. O relógio grita-me as horas vespertinas e os olhos reflectem o ar húmido, que ainda mal sente o sol. Vou pela estrada vazia, cheia de nada, em direcção ao carro cúmplice, acompanhante de tantas horas de viagem. Sinto-o frio, fustigado pelo orvalho. Continuo, vendo as escadas amarelas que vão dar à avenida principal. Sento-me a meio, no lugar que um dia foi nosso. Saco do maço de tabaco, e tiro um cigarro. Dou uma passa longa... sinto a nicotina a instalar-se no organismo. É um orgasmo prejudicial. Dou outra e penso em ti. Outra e penso em nós. Outra e começo a reparar no que me rodeia. A estrada está praticamente deserta. É raro passar um carro. Isto, na principal avenida da cidade, é bom de se ver. É a magia da madrugada. Acaba o primeiro cigarro. Reparo nas pombas que me rodeiam. Caminham com uma graciosidade invejável, mas com uma higiene deplorável. Sugerem-me outro, eu aceito. Acendo-o e penso no que perdemos, ou no que já se perdeu. Relembro momentos, sinto-os como se se passassem naquele preciso instante. Mas não se passam. E o que se passou não volta. Apago-o. Já estão duas beatas, no meio da cinza. Penso em fazer desenhos com elas, se continuar a fumar. E saco outro, só para não deixar o desenho incompleto. Imagino-me a escrever sobre aquele momento, mais tarde, quando tiver tempo. Curioso... tempo é coisa que não me falta, naquele momento. Mas estou, ironicamente, ocupado para tudo. Volto a nós. Nunca me cansei de pensar em nós. Acho que nunca me cansarei, para o bem ou para o mal. Grito revoltas, ponho tudo a nú. A avenida começa a agitar-se. Já há autocarros, e alguns carros de polícia e bombeiros. Pessoas passam já, a caminho dos seus empregos. Pergunto-me como é possível viver a acordar tão cedo. Quem não aprecia a noite não sabe o que é bom. E tu, tal como aquela agitação exponencial, sempre no horizonte. Vingo-me no quinto cigarro. Fumo-o com uma agressividade extrema, como se quisesse que aquilo acabasse a todo o custo. Ia ter de acabar. Quando chegar ao filtro, acaba. Isso é certo. Pergunto-me quando chegará o meu filtro. Questiono-me se não chegou, já. Faço um "A" com os 5 filtros abandonados, deixando naquelas escadas uma pista para o maior bem do mundo. Levanto-me, a pensar nisso. O estado de espírito está ao nível daquela avenida, bem baixo. No fim, uma única conclusão, que está, por coincidência, escrita em todo o lado. Fumar faz mal à saúde. E amar, não fará?

terça-feira, julho 04, 2006

Amordaçados

Foto de Diogo Sarmento


Escrevemos porque ninguém nos ouve

Georges Perros

sábado, julho 01, 2006

Release... the beast

Não me livro deste soneto
Com a facilidade desejada
Desta mente fazes questão de não sair
Com essa tua face enevoada.

Liberta-me desta prisão
Que construiste sem querer
Antes que o amor que nele circula
Me asfixie o coração.

Deixas-me aqui, preso a sensações
Enquanto lavas a força de vontade
E estendes as compaixões,
Num estendal de afectos
E de mágoas reforçadas pela saudade.

Um dia, talvez
À chuva, quem sabe
Calaremos este duelo.
Até lá só quero
Que este tormento acabe.

E esta obrigação de escrever bonito
Contrasta com a dor que sinto
Que só deseja quebrar barreiras,
Parar de fazer desta vida
Cada vez mais perdida.