sexta-feira, agosto 18, 2006

Si tu te vas.

Vejo-te partir, como quem descobriu um novo olhar. Cinjo-me ao meu mundo e retrato-me, fiel aos meus princípios. Não deixo de te amar por partires, não deixo de te desejar por não te ver nem deixo de me revoltar por não ficares. Ficar privado da tua imagem tornar-se-á um vício involuntário, bem como suspiros deixados ao vento, envoltos em gritos de saudades e murmúrios desconsolados. Sou chão de lama e paredes mal pintadas, visto-me de luto pela minha alegria sumida e rejubilo com o novo ser que nascerá. Afinal de contas algo terá de mudar. A ser que seja eu, que largue esta vestimenta cansada de ser sempre afável e que me transforme numa roupa de verão, de calção e havaiana num dia tórrido. Ver-te partir será como obrigar-me a ir para a praia ao domingo, sem companhia; infestar-me de gente que não me diz nada e no fim atravessar um caminho atestado para chegar a lugar nenhum. É ficar a amargurar-me pelo caminho sobre os caminhos que poderia ter tomado para evitar o trânsito, para escapar a alguns buracos no asfalto e a algumas buzinadelas de quem a meu lado trava a mesma batalha. E no fim, o resultado é sempre o mesmo... estou sozinho. Choro-me pela bochecha abaixo, embrulho-me num lenço de papel e olho-me. Sou o retrato despedaçado do que poderia ser. Do que deveria ser. Do que queria ser. Mas só o seria contigo, e isso... é história. Que farei dos meus sonhos, se todos se interlaçavam em ti? Rasuro-os e crio novos, sem inspiração alguma, só mesmo na ânsia de chegar a algo palpável, algo que me faça mover de encontro a um novo patamar emocional. Porque o que me move são as emoções. São dias de lamento, dissabores e angústia. É tudo o que me deixas e tudo o que ainda absorvo de ti. Que seja! Se é teu, que venha a mim! Sou assim, aspiro-te e interiorizo-te como se de pepitas de ouro para o meu organismo te tratasses. E deixo-me ficar, qual monte de destroços intergaláctico perdido numa órbita lunar... Encolho-me, olho para cima, estás tu a olhar para mim, com ar de compaixão. So me ocorre relembrar-te, não fui feito para me lamuriar, no dia em que partires, não vai ser neste estado de espírito que me encontrarás.